Eugénio Calhau nasceu em Monte Gordo, em 24 de agosto de 1954, data também do suicídio de Getúlio Vargas, presidente do Brasil, com um tiro no coração. Consta que também ao pai Calhau lhe apeteceu morrer quando olhou para a cara do filho.

De facto, Eugénio Calhau foi, na infância, aquilo a que se pode chamar um patinho feio, com a diferença de que nunca se transformou num cisne, bem pelo contrário. Talvez por isto tenha sempre preferido resguardar-se de olhares alheios, escondendo-se atrás de uma máquina fotográfica.

Pensou primeiro numa carreira de fotógrafo de artes, mas mudou de ideias depois de ter sido descoberto que o seu trabalho “O Abismo”, que lhe valera o 1.º Prémio do Concurso Internacional de Fotografia Vila Nova de Cacela, mais não era do que uma fotografia íntima do seu primeiro amor, a vaca Matilde.

Marcado pelo escândalo, foi viver para Lisboa, onde o 25 de abril o foi encontrar e lhe mudou a vida. São dele as únicas fotos de Marcello Caetano nesse dia, num acaso histórico provocado pelo facto de Salgueiro Maia lhe ter ordenado que entrasse no Quartel do Carmo, pois não queria ser imortalizado «ao lado de um gajo tão feio». O trabalho realizado nesse dia valeu-lhe a entrada para a redação do diário O Martelo Pneumático.

Em 1978, mudou-se para O Soviético Indefectível, onde permaneceu 5 anos, até à compra do título por um grupo de comunicação social norte-americano.

Em 1986, e já depois de ter montado o seu próprio negócio de fotografias para casamentos e batizados, voltou ao jornalismo, para integrar o projeto O Europeu. Várias reportagens razoáveis valeram-lhe, em 89, a promoção a editor fotográfico... o facto de ser cunhado do diretor também pode ter ajudado, mas certamente em menor grau. Foi neste semanário que Eugénio Calhau se tornou conhecido como ‘o pai do novo fotojornalismo português’, pois o facto de, na altura, ter problemas de alcoolismo, levava a que várias das suas fotos ficassem tortas e desfocadas, um estilo que ainda hoje tem imensos seguidores.

Em 1995, apresentou a sua primeira exposição retrospetiva, dedicada precisamente ao período de trabalho n’O Europeu. Intitulava-se “Coisas Que Não Me Lembro De Ter Fotografado E Que Agora Também Não Consigo Saber O Que Eram Porque As Fotos Ficaram Tremidas”. Seguiram-se mais duas mostras, uma dedicada ao desporto (“Mais Coisas Que Não Me Lembro De Ter Fotografado Mas Que Acho Que Têm A Ver Com Futebol”) e outra ao erotismo (“Outras Coisas Que Não Me Lembro De Ter Fotografado Mas Que Acho Que Têm A Ver Com A Matilde”).

Passou ainda pelas revistas de sociedade Caras de Bacalhau e Ôôôlé! antes de, em 2007, se tornar editor de fotografia do Jornal do Fundinho.